Espelhos que Curam

 

Há palavras que abraçam. Outras, que despertam. Mas de vez em quando, aparece uma que faz algo ainda mais raro: nos revela.

É como se alguém limpasse, com cuidado, o vidro embaçado entre nós e quem realmente somos. E então a imagem aparece — não como o mundo espera, nem como a gente tentou parecer. Mas como a gente é. Inteira. Real. E, por isso mesmo, bela.

Esses momentos são raros. Às vezes surgem de uma conversa sincera, de um olhar cheio de escuta, ou de um texto que nos lê antes mesmo de o lermos. Quando acontecem, o efeito é profundo. Porque há cura em se ver com verdade e carinho. E mais ainda: há libertação.

A gente passa tanto tempo se comparando, se medindo, se diminuindo pela régua do outro… Quando alguém segura esse espelho limpo e nos mostra com doçura prática e fé inquieta, é como se o coração respirasse fundo. Como se dissesse: “Ah… então eu sou isso também?”

Sim, você é. Com suas dores, dúvidas, alegrias e esperanças. Com sua fé que tropeça, mas levanta. Com sua coragem de continuar.

Que a gente aprenda a ser esse espelho limpo para os outros também. A ouvir com mansidão, a olhar com misericórdia, a falar com afeto. Porque talvez o que alguém mais precise hoje não seja de conselhos — mas de se ver, por um instante, com os olhos da graça.

E que esse instante… baste para reacender a sua luz.

Com carinho,

Lia Chagas