FOMOS ENSINADOS QUE PARA RESOLVER UM PROBLEMA É PRECISO COMPRAR ALGO!

 

        Nas priscas eras, onde a humanidade ainda era tipicamente formada por caçadores e coletores, existiam muitos problemas. Não tantos quanto os existentes no mundo contemporâneo. Mas o motivo é fácil de se perceber… a maioria dos problemas atuais são criados pela sociedade de consumo. Também somos culpados, é claro. Porém, no topo da pirâmide da culpa, estão os grandes agentes de marketing, donos de empresas multibilionárias e paladinos mundanos.

         Os caçadores e coletores enfrentavam problemas do tipo:

       - O que vamos comer hoje? Como vamos nos proteger das intempéries diárias, como animais famintos e tempestades escrotas que podem varrer uma boa turma de sem-tetos?

          Os de hoje, enfrentam problemas bem diferentes, como:

        - Qual restaurante posso visitar para comer um risoto de camarão do mediterrâneo com molho de tomates oriundos do sul da Austrália?

         Ambos estão em busca de saciar uma das necessidades descritas na pirâmide de Maslow: a fome. Mas há um conflito muito grande entre um desejo e uma necessidade (tratarei disto em outro post).

          Quero chegar em que lugar retomando tempos distantes da nossa história?

        Estou inteiramente convencido em afirmar que, antigamente, resolvia-se um problema com uma solução geralmente advinda de um processo orgânico, criativo. Por exemplo, os homens das cavernas utilizavam pedaços de troncos, cedidos pela própria natureza, para criar ferramentas de construções e armas para se defenderem. Aí estamos diante de uma solução custo zero (não de energia, mas de dinheiro).

        Hoje invertemos a situação, querendo resolver problemas com custo zero de energia e, com isso, injetando muito dinheiro. Estamos sempre a um clique de solucionar todos os nossos problemas, que, inclusive, em sua grande maioria, nem existem, são apenas nossos desejos falando mais alto.

      Temos que comprar a nova ferramenta especializada em cortar batata-doce e outra ferramenta específica para cortar a batata inglesa… outra para cortar legumes verdes, e uma outra para os de cores claras. E enfim, temos um sem fim de cliques solucionadores de grandes problemas que atormentam a vida moderna.

       Parece que esquecemos a capacidade de pensar, improvisar, e ser criativo. Não queremos comprometer a nossa finita energia com os nossos prolemas, pois ficamos das 9h às 17h resolvendo problemas dos outros, em troca de um dinheiro que solucionará os nossos problemas com cliques e sem demanda de energia (já que estamos tão cansados da rotina diária de enriquecer o bolso do empregador).

        Até entendo em certo ponto que esse processo de exaustão causado pela rotina diária do mundo pós revolução industrial é um baita convite para que possamos nos presentear com pequenos luxos no dia a dia. Mas esses luxos podem nos levar ao bom e velho escravismo na roda dos ratos – trabalhando eternamente das 9h as 17h, para pagarmos pela energia que não vamos gastar no restante do dia. É um ciclo sem fim (o fim é a morte). Ou… existe outra possibilidade. E é essa nova forma de enxergar que eu vos trago agora…

        Que tal aceitarmos o desafio de tentarmos deixar que uma compra seja a primeira solução para um problema?

        Vejamos então…

        Primeiramente, nós podemos tentar improvisar com algo que já temos em casa ou que pode ser gentilmente cedido pela natureza de forma gratuita. Digo isso porque geralmente a maioria das coisas podem ter múltiplas funções, e isso pode funcionar muito bem desde quando exercitemos o nosso lado criativo. Isso evitará dezenas de reais despejados em um novo produto – e esses mesmos reais podem ser transformados em ativos que trabalharão para você para sempre (dividendos, por exemplo).

        Em segundo lugar, e não menos importante, quando se trata principalmente de serviços, nós sempre podemos aprender um novo ofício. Ou seja, podemos nós mesmos pesquisar, analisar e estudar como é o processo e finalmente aplicar em nossos próprios problemas domésticos e diários. Hoje temos um grande aliado, que é o youtube, onde podemos encontrar desde aulas de como desentupir uma privada até montar um delorean que nos leve de volta a 1985 (risos – aqui só os mais velhos entenderão).

        Trazendo outro exemplo de grande valia, podemos falar sobre o quesito “alimentação”. Preferimos pagar para que alguém faça a nossa comida, e ainda na maioria das vezes, traga-a para nós. Mais uma vez, preferimos fazer alguns cliques e resolver nosso “problema” sem gasto de energia e tempo. Claro que o tempo é o artigo mais valioso que existe, disso não restam dúvidas. Todavia, se pagamos para que alguém faça e depois pagamos mais ainda para que alguém também traga a nossa comida, estamos trocando dinheiro por conforto, mas sem analisarmos que para ganharmos esse dinheiro, temos que vender mais tempo ainda para o nosso empregador. Voltamos então ao ciclo sem fim, citado acima.

        O fato é que, além de tudo isso, estamos abrindo mão de nossa autonomia. Estamos nos tornando seres fracos, dependentes de dinheiro e cliques. Estamos ficando cada vez mais especialistas em muito pouco e dependentes de quase todo o resto. Somos reféns do consumismo insano e indiscriminado, tão propagado pela mídia canalha que tenta nos empurrar tudo e mais um pouco, alegando que precisamos de todos esses itens para sermos felizes. Será que realmente precisamos de toda essa parafernalha? Fica então lançado aqui um convite a reflexão… e sintam-se a vontade em compartilhar nos comentários.


                        BY JOTA RÊGO


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